Maricá/RJ,

PROJETO POVOS

Projeto Povos, iniciativa que, desde 2019, vai colocar de vez, no mapa do Brasil, os territórios, identidades e tradições de 64 comunidades tradicionais indígenas, caiçaras e quilombolas de Angra dos Reis (RJ), Paraty (RJ) e Ubatuba (SP). 
Reivindicação histórica do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), a realização do Projeto Povos é uma medida de mitigação exigida pelo Ibama, no âmbito do licenciamento ambiental federal, da atividade de produção de petróleo e gás da Petrobras no Polo Pré-Sal. Quem executa é o Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS), uma parceria de dez anos entre o FCT e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), maior instituição de pesquisa em ciência e tecnologia em saúde da América Latina. 
Participam também a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), a Comissão Guarani Yvyrupá (CGY) e a Coordenação Nacional de Comunidades Tradicionais Caiçaras (CNCTC), que completam o conselho do projeto com a missão de garantir que todos os direitos das comunidades sejam respeitados. 
Diferente de outros projetos deste tipo, - que são feitos apenas por empresas, universidades ou ONGs, no Projeto Povos o protagonismo é das comunidades tradicionais. Isso foi uma exigência do próprio Ibama, que pautou a participação do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) no envolvimento com todo o processo. Até 2023, serão 64 comunidades tradicionais caracterizadas: 48 caiçaras, 8 quilombolas e 8 indígenas. 
“Estamos entre as duas maiores metrópoles do Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo, em uma região que está hoje no olho do furacão do Brasil. Por isso esse projeto é tão importante, porque somos nós, comunidades tradicionais, que diremos em que situação estamos e o que nós de fato queremos”, destaca Vagner do Nascimento, Coordenador do FCT, Coordenador Geral do OTSS e morador do Quilombo do Campinho. 

Como saber mais? 
Acesse o site do: Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS). 

Em tempos de racismo escancarado, o conselho da Unifesp aprova mapeamento de terreiros bantu de São Paulo

Em tempos de racismo e fascismo escancarado, o Conselho de Extensão e Cultura da Universidade Federal de São Paulo aprovou no final da tarde desta sexta-feira (26/6), o projeto de Mapeamento das Comunidades Tradicionais de Matriz Bantu de São Paulo, que objetiva inventariar terreiros de candomblé de feição Bantu na cidade de São Paulo. O projeto é fruto da iniciativa do Instituto Latino Americano de Tradições Bantu (ILABANTU), em cooperação com o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB/UNIFESP) e a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
O ILABANTU, nos últimos anos, vem desenvolvendo uma ação de conhecimento e preservação das línguas Bantu, que reflete a organização de uma filosofia do ser humano, da coletividade humana e da relação destes com a natureza e o universo. Embora os Bantu tenham sido os primeiros a atracarem no país, são ainda pouco conhecidos pela maioria da população brasileira. Desconhecimento que está atrelado ao racismo com relação às culturas africanas e afro-brasileiras, o que, por sua vez, contribui com o crescimento da intolerância religiosa. Tornam-se urgentes as ações que promovam a democracia e o fortalecimento político dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana no Brasil.
Este projeto pretende oferecer uma pequena, mas não menos importante, contribuição para a criação de uma rede das Comunidades Tradicionais de Matriz Africana na cidade de São Paulo, por meio da elaboração de um aplicativo de coleta e de alimentação de dados em um site de georreferenciamento. Neste sentido, o projeto se justifica pela necessidade de preservar um importante patrimônio imaterial, podendo ainda atuar em defesa da coletividade e de entes públicos e privados, coibir danos causados por preconceito, discriminação e por toda forma de intolerância correlata, segundo parecer da professora Renata Gonçalves.
Por sua vez, a Pró Reitora de Extensão e Cultura da UNIFESP, professora Raiane Assumpção, considera que o mapeamento dos terreiros de candomblé do município de São Paulo possibilitará sistematizar a quantidade de terreiros, localização, organização, condições de documentação, situação do território sagrado (incluindo a questão de posse e propriedade sobre a área) e os aspectos socioculturais e demográficos que envolvem a comunidade inventariada.
Com a execução do mapeamento, busca-se, ainda, conhecer a distribuição socioespacial destas comunidades tradicionais de acordo com a localização geográfica, fundadores e lideranças, diversidade cultural (nações) e situação fundiária, visando especificamente aprofundar o conhecimento sobre a realidade das religiões de matriz africana. Além disso, pretende oferecer subsídios georreferenciais para elaboração de políticas públicas e realizar o georreferenciamento dos territórios. Permeia o projeto, a construção de um acervo acerca das religiões de matriz africana no município de São Paulo.
Por fim, o projeto considera fundamental garantir um espaço para a promoção de um seminário para a apresentação do inventário e elaborar um guia de referência do trabalho realizado para que a metodologia e resultados alcançados possam ser replicados em pesquisas posteriores.
Um trabalho que contribui para as políticas de promoção da tolerância religiosa e do respeito às comunidades de povos tradicionais de terreiro!


Le Monde conta como o Brasil “embranqueceu” suas personalidades negras, como Machado de Assis

Jornal Le Monde relata circunstâncias do racismo brasileiro que levaram ao "embranquecimento" de personalidades negras, como o escritor Machado de Assis ou o ex-presidente Nilo Peçanha, entre outros.
Jornal Le Monde relata circunstâncias do racismo brasileiro que levaram ao "embranquecimento" de personalidades negras, como o escritor Machado de Assis ou o ex-presidente Nilo Peçanha, entre outros. © Fotomontagem RFI
Na esteira dos debates lançados recentemente sobre o racismo no mundo, o jornal francês Le Monde se interessou mais uma vez pela situação do Brasil. Na edição publicada nesta quinta-feira (25), o vespertino conta a história do escritor Machado de Assis. O correspondente no Rio de Janeiro relata como o país “embranqueceu” o fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, assim como várias outras personalidades negras.

Em um texto intitulado “A redescoberta no Brasil das grandes personalidades negras ‘embranquecidas’”, o correspondente Bruno Meyerfeld conta como todas as referências à cor da pele de Joaquim Machado de Assis, “monumento nacional da literatura”, foram, durante muito tempo, apagadas. O jornalista explica que até hoje muitos nem sabem que o maior escritor do país era negro.

O correspondente explica a razão dessa ignorância, ressaltando que “na foto oficial do autor, usada para ilustrar a maior parte de seus livros, Machado de Assis aparece com uma pele tão clara quanto a sua camisa”. Além disso, na imagem os cabelos parecem ser lisos e os traços são escondidos pela barba, continua o texto. Le Monde lembra ainda que estátuas do autor de "Dom Casmurro" foram feitas quando ele ainda era vivo. E, mesmo assim, os escultores preferiram usar o mármore branco ao basalto preto.

“Na verdade, o tratamento dado a Machado de Assis não é fruto do acaso. O escritor, como várias outras personalidades negras ou mestiças, viu seus retratos ‘embraquecidos’ de propósito – resultado de um racismo odioso em prática no início do século 20”, pontua o correspondente. Ele lembra que o Brasil ainda sofria com a herança da escravidão, abolida em 1888, e que, em seguida, “os governantes, que sonhavam com um país de ‘sangue lavado’, implementaram uma política oficial de embraquecimento da população, ‘importando’ 4 milhões de imigrantes da Europa até 1929”.

Até presidente teve imagem alterada

No caso de Machado de Assis, a imagem desejada pelas autoridades persistiu durante décadas, a ponto de seu atestado de óbito trazer a descrição “cor branca”. “Um século mais tarde, em 2011, um ator branco foi escolhido para interpretar o escritor em uma publicidade”, relata o jornal francês, insistindo que o autor está longe de ser o único a receber esse tratamento no país. “Um ‘branqueamento’ fotográfico foi aplicado em Nilo Peçanha, presidente do Brasil entre 1909 e 1910, mas também no padre e compositor José Mauricio (1767-1839), ou ainda no escritor e jornalista Lima Barreto (1881-1922), todos mestiços e descendentes de escravos”, enumera o jornal.

Retrocesso na era Bolsonaro?

Segundo Le Monde, a situação só começou a mudar nos anos 2000. “Nessa época, a identidade negra se afirmou e grandes personalidades afrobrasileiras foram ‘desembranquecidas’: arquivos foram descobertos e fotografias do ‘verdadeiro Machado’ foram exumadas. Em 2019, a universidade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, publicou uma nova versão oficial do retrato do escritor, que aparece com sua verdadeira cor de pele”, relata o texto.

“Mas será que esse movimento de emancipação vai resistir à onda de Jair Bolsonaro?”, questiona Le Monde, afirmando que o Brasil vive atualmente um grande retrocesso sobre as questões raciais. Para justificar seus argumentos, o correspondente termina o texto mencionando o cartaz de uma campanha publicitária recente do governo federal, no qual aparecem, sob o slogan "Pátria Amada – Brasil", cinco crianças, todas brancas, com cabelos lisos e de aparência europeia. “Um novo ‘embranquecimento’ fotográfico, bem distante da realidade de uma nação cada vez mais mestiça”, conclui o correspondente.

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