Professores Fulni-ô lutam por educação escolar indígena no sertão de Pernambuco
Estado
interfere e professores indígenas resistem na defesa da prática escolar
diferenciada, por Renato Santana, de Águas Belas (PE)
Mal o dia começa a abrir seus olhos de luz sobre o
mundo, os anciãos Fulni-ô reúnem um grupo com 20, 30 crianças. Entre bocejos e
remelas, todos seguem do Ouricuri – ritual e território sagrado do povo – rumo
à mata. As vozes ecoam na língua materna, o iatê.
Na terra úmida de orvalho e no frescor do verde, as
crianças ouvem os ensinamentos e aprendem a observar a natureza. Conforme mito
Fulni-ô, os homens eram animais em tempos imemoriais; entendê-los, portanto, é
elemento fundamental da cosmologia Fulni-ô.
Todos os pequenos recolhem lenha e sabem a razão do
trabalho: alimentar a fogueira do Ouricuri durante a noite, quando ao redor
dela as crianças sentarão para ouvir as histórias do povo contadas pelos mais
velhos e com eles aprender sobre astronomia, valores, filosofia, língua. Isso é
parte da educação diferenciada, do currículo e da escola, mas, para Secretaria
Estadual de Educação de Pernambuco, não é bem assim. E as polêmicas com o
estado se avolumam, de acordo com os professores. Entre setembro e novembro, os
Fulni-ô entram na principal prática ritualística do povo: o Ouricuri. Tudo pára
na aldeia, inclusive as aulas. Por conta disso, o estado alega que a escola não
cumpre as 200 horas-aula.
“O Ouricuri faz parte da escola, da educação. O
estado não quer entender isso. Com o Ouricuri, passamos muito de 200 horas,
porque é nele que nos fazemos Fulni-ô”, protesta Idiarrury.
Os Fulni-ô é o único povo que manteve a língua
materna entre os povos indígenas de Pernambuco. Dessa forma, as relações com o
estado ganham em complexidade. Os professores explicam que o estado também
exige que todos descrevam o ensinado nas aulas. Surge aí uma profunda
dificuldade: o ensino do iatê é intrinsecamente ligado ao Ouricuri, ritual
sagrado e secreto, então como descrever o ensinado se isso interfere numa
tradição do povo. “A língua do nosso povo se proliferando é prova de que nossa
pedagogia é correta”, ataca Idiarrury. “A escola é um território dos indígenas.
Querem tirar o nosso modo de ver o mundo e querem impor o deles”, entende o
professor.
NOTA: Leia
reportagem completa na edição de março do jornal Porantim.
Foto: Renato
Santana
Legenda:
da esquerda para a direita: Almir, Paulo e Idiarrury - lideranças Fulni-ô
FONTE:
www.cimi.org.br
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